O nervosismo tem-se apoderado de alguns murtoseiros que, como eu, acordam mal soam as primeiras badaladas das sete horas da manhã, às quintas-feiras e aos domingos.
Ainda o ponteiro não fez rodar o mecanismo, e já eu estou com a cabeça enfiada debaixo da almofada, cobrindo-me todo com o cobertor, mas o calor a que fico sujeito obriga-me a sair do esconderijo passados alguns minutos.
Começa o tiroteio.
Furiosos por terem de esperar, ou entontecidos pelo esvoaçar e galopar da vastíssima variedade e quantidade da avifauna que povoa as regueiras e os sapais do Bunheiro poente, os caçadores disparam em todas as direcções.
Julgo até que alguns trarão metralhadoras e espingardas de canos cerrados, tal é a intensidade e a cadência dos disparos.
Horas a fio, não se houve outra coisa : pum, pum, pum, pum!
Que não há nada como acordar ao som duma guerra, em que os agressores perseguem os pobres passaritos à procura duma minhoca para saciar a fome.
Os agricultores param os tratores! Os pescadores desligam os motores! Os trabalhadores da construção despedem-se do patrão! Nada faz parar um caçador às quintas e aos domingos.
E as histórias ao fim do dia, ao balcão da tasca dão conta da perícia de cada um.
Os coelhos, os patos, as lebres, os faisões, e as perdizes ficam entalados nas arcas congeladores entre os bisontes, os búfalos e os antílopes.
E quem não gosta da "música alta ", mesmo no dia do Senhor, que se mude para outra freguesia que as coutadas da Murtosa já são famosas pela sua caca.
Que alegria ... andar aos tiros aos pardalitos.
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