terça-feira, novembro 23, 2004

Dá Deus nozes!

Às vezes penso na forma como os alentejanos conseguiram “vender” o Alentejo como o lugar ideal para se fazer o chamado “turismo cá dentro” longe da confusão.
Faltando-lhes quase tudo em termos de beleza natural e condições de vida, sobretudo no interior, eles lançaram mão daquilo que o turista gosta de encontrar : boa comida, bom vinho, diversidade de alojamento e cordialidade das pessoas.
É fácil enumerar mais de uma dezena de pratos regionais alentejanos, doces inesquecíveis, vinhos de altíssima qualidade, queijos secos e sem o ser, enchidos…uma imagem de marca do Alentejo que faz dele uma região procurada.
E no meio de muitas anedotas, os alentejanos são conhecidos por serem gente simpática, gente bem disposta, bonacheirona, com quem apetece falar, dizer “bom dia” quando se passa, mesmo sem conhecer.
E uma coisa é certa. Não há turismo em crescimento se estes condimentos faltarem.
Toda a gente que se interessa pelo futuro da Murtosa a aponta como uma terra que se devia virar essencialmente para o turismo.
Fala-se das belezas naturais, da gastronomia regional, da Ria e do Mar…
Mas há um amargo de boca que me vai ficando conforme vou aprofundando este tema! Vejamos.
Murtosa : terra de enguias! Mas há por acaso aqui algum restaurante que seja conhecido, pelo menos ao nível do distrito, por ter excelentes pratos de enguias? Aquele restaurante que faz as pessoas deslocarem-se de longe só para degustar um "manjar dos deuses"?
Não quero de forma alguma ofender ou menosprezar os nossos restaurantes, mas um requinte razoável, ambiente acolhedor, comida rexcepcional e regional, empregados de mesa bem instruídos e apresentados, são qualificações que não abundam. Diria mais, rareiam.
Doces regionais murtoseiros : há algum que basta dizer o nome e logo alguém diz que conhece?
Turismo rural ou turismo de habitação, aquele que é criado para incentivar o conhecimento mais profundo, o contacto entre as pessoas, nem ouvir falar.
Não digo isto com qualquer tipo de regozijo. Muito pelo contrário : digo-o porque não há quem não afirme que na Murtosa é tudo muito bonito mas está tudo por explorar.
Todo este rumo que parece estar destinado à Murtosa, e ao qual ela resiste, precisa dum empurrão para que não aconteça, como diz o povo : "Dá Deus nozes a quem não tem dentes!"

3 comentários:

Anónimo disse...

Já houve no Bunheiro a Mansão e a na Murtosa a Casa dos Cravos, por exemplo, mas os donos fartaram-se e deram à sola. Por acaso até tenho saudades dos tempos da Dona Aldi, que levou o nome da murtosa bastante mais longe do que muitos.
Outros, tentaram restaurar casas murtoseiras, mas não conseguiram sacar os subsídios além de outros, que as restauraram a expensas próprias e chegaram a ter fama de terem sacado os subsídios.

Anónimo disse...

Isso é bem verdade. Nestes dias em que o Sol permite deslumbrarmo-nos com a paisagem também penso que esta região tem tudo para ser um grande potencial turístico mas fico sempre a pensar: porque será que esta terra parece de costas para os turistas?
Vivo nesta terra desde que nasci e desde cedo me recusei a sair de cá. Não tenho alma de emigrante embora tenha família na América, mas adoro viajar. Constato sempre que saio que há pequenos lugarejos, dos quais nunca tinha ouvido falar mas que por isso mesmo me suscitam curiosidade, que são dignos de visita pela simplicidade e brio com que são tratados, dando a impressão de que estão à espera de visitantes a qualquer hora e instante. À nossa aproximação detém-se em solicitudes para nos indicarem qualquer coisa que segundo eles é muito importante de ver e à falta de guia turístico são eles próprios que nos mostram ou explicam num misto de orguho e modéstia o seu saber.
Quando regresso deparo-me invariavelmente com gente a falar alto usando calão sem a mínima preocupação para os transeuntes, vejo mulheres sem qualquer cuidado na sua apresentação no mesmo linguajar, pessoas que se exprimem de forma grotesca, teimando em equívocos fonéticos mesmo depois de lhes serem corrigidos, homens ociosos sedentos de maldizer...
Num dia deste Verão senti-me tão envergonhada que me apeteceu pedir desculpa a um casal, que pela matrícula da viatura seria francês: Este casal sentindo-se confuso na decisão de tomar o melhor caminho para o Bico, pediu ajuda a um grupo de homens que estavam encostados ao edifício da CGD. Estes tentaram explicar com as limitações de quem não comunica na mesma lingua. Pois ainda não tinha o casal virado costas, já se ouvia um chorrilho de piadas escabrosas e mal intencionadas alto e bom som para que toda a Praça Jaime Afreixo pudesse partilhar de tal "eloquência".
Pensei para comigo: Como é que uma terra com tanta beleza tem gente tão feia e mal educada. Comparei-os às ervas daninhas que nascem e teimam em proliferar num bonito jardim - e o pior de tudo é que são mais resistentes do que as flores.
Dá Deus nozes a quem não tem dentes.

Anónimo disse...

O problema da Murtosa é o facto de ser uma sociedade fechada ao exterior por medo de ser "contaminada" pelo progresso. Não há interesse por parte de certos caciques em interagir com o "exterior", pois só isolando a "Terrinha" conseguem resistir ao séc XXI...