Começou o debate do Orçamento Geral do Estado. Todos os anos somos convidados para este circo onde os artistas são portadores de amnésia profunda, nalguns casos mesmo crónica.
O apresentador vai anunciando o seu nome e, invariavelmente, depois de abrir a boca meia dúzia de vezes, avisa-os que excederam o tempo e que têm de dar oportunidade a outro de fazer as suas palhaçadas.
Uns saem contrariados, outros entram ufanos, convencidos que o seu número é o melhor e nunca antes visto.
Primeiro entra o mágico, aquele que faz desaparecer os números e voltar a aparecer uns diferentes, mais redondinhos, e sempre positivos, maiores do que o ano passado.
Quando ele sai, entra o domador de leões, com as feras todas a rugir, agastadas com a azia provocada pela má digestão dos números nos anos em que foram reis e senhores do circo.
Metade da assistência bate palmas entusiasmada. A outra metade faz sapateado. Uns e outros abanando as extremidades corporais com que vêem os artistas tratar dos assuntos do povo.
Agora entra o trapezista, aquele que anda sempre no arame, quase a cair mas aguentando-se, ora colocando mais peso dum lado ora doutro. Os companheiros temem a sua queda, pondo a mão à frente da boca e sustendo a respiração com o que ele vai dizer. Aguentam-se sempre, até à hora em que o deixam cair na rede. Tapa a cabeça e sai envergonhado, mas quando chega lá fora torna-se de novo herói e pronto a actuar no maior circo do mundo.
A seguir vêm os dos cães amestrados. Sabem que nunca serão os senhores do circo e por isso podem fazer o que quiserem que ninguém os leva a sério. É a altura da assistência comer pipocas e pegar nos telemóveis para ligar á família a perguntar se estão a gostar. Os cães não se dão por vencidos e começam a ladrar e a ficar vermelhos de raiva.
Acabou o tempo. Voltam para o seu lugar. É a vez dos palhaços. Também já foram mágicos mas as mãos começaram a tremer e já não dá. Dizem piadas. Fazem pouco de tudo e de todos, descomprometidos com o passado. A amnésia não os deixa lembrar dos dias em que vestiam fatos brilhantes e davam cartas. Cartas trocadas. Truques falhados.
O pessoal agita-se : vêm aí os cavalos e os elefantes. Uns com umas trombas de todo o tamanho. Os outros garbosos. Os primeiros, em maior número, detestam que lhes metam as patas em cima, eles que seriam capazes de os esmagar num instante. Mas sabem que precisam dos segundos para poder estar em cena, e aturam as suas traquinices. Um dia vão poder fazer o seu número sozinhos. Um dia, quando tiverem outro domador.
E agora as serpentes, com as suas línguas bífidas, para dentro e para fora. Risinhos nervosos na assistência. Ai se as pudessem matar…
O espectáculo está a chegar ao fim e ao actual dono do circo é pedido um discurso. Agradece a atenção, diz que foi o melhor espectáculo de sempre.
Na assistência olham uns para os outros. Ninguém se lembra de nada. É amnésia colectiva. Põem o braço no ar quando lhes mandam, com pressa de ir para casa.
Já ninguém se interessa pelo circo a não ser os artistas.
Os bilhetes? Esses estão sempre pagos!
Uns saem contrariados, outros entram ufanos, convencidos que o seu número é o melhor e nunca antes visto.
Primeiro entra o mágico, aquele que faz desaparecer os números e voltar a aparecer uns diferentes, mais redondinhos, e sempre positivos, maiores do que o ano passado.
Quando ele sai, entra o domador de leões, com as feras todas a rugir, agastadas com a azia provocada pela má digestão dos números nos anos em que foram reis e senhores do circo.
Metade da assistência bate palmas entusiasmada. A outra metade faz sapateado. Uns e outros abanando as extremidades corporais com que vêem os artistas tratar dos assuntos do povo.
Agora entra o trapezista, aquele que anda sempre no arame, quase a cair mas aguentando-se, ora colocando mais peso dum lado ora doutro. Os companheiros temem a sua queda, pondo a mão à frente da boca e sustendo a respiração com o que ele vai dizer. Aguentam-se sempre, até à hora em que o deixam cair na rede. Tapa a cabeça e sai envergonhado, mas quando chega lá fora torna-se de novo herói e pronto a actuar no maior circo do mundo.
A seguir vêm os dos cães amestrados. Sabem que nunca serão os senhores do circo e por isso podem fazer o que quiserem que ninguém os leva a sério. É a altura da assistência comer pipocas e pegar nos telemóveis para ligar á família a perguntar se estão a gostar. Os cães não se dão por vencidos e começam a ladrar e a ficar vermelhos de raiva.
Acabou o tempo. Voltam para o seu lugar. É a vez dos palhaços. Também já foram mágicos mas as mãos começaram a tremer e já não dá. Dizem piadas. Fazem pouco de tudo e de todos, descomprometidos com o passado. A amnésia não os deixa lembrar dos dias em que vestiam fatos brilhantes e davam cartas. Cartas trocadas. Truques falhados.
O pessoal agita-se : vêm aí os cavalos e os elefantes. Uns com umas trombas de todo o tamanho. Os outros garbosos. Os primeiros, em maior número, detestam que lhes metam as patas em cima, eles que seriam capazes de os esmagar num instante. Mas sabem que precisam dos segundos para poder estar em cena, e aturam as suas traquinices. Um dia vão poder fazer o seu número sozinhos. Um dia, quando tiverem outro domador.
E agora as serpentes, com as suas línguas bífidas, para dentro e para fora. Risinhos nervosos na assistência. Ai se as pudessem matar…
O espectáculo está a chegar ao fim e ao actual dono do circo é pedido um discurso. Agradece a atenção, diz que foi o melhor espectáculo de sempre.
Na assistência olham uns para os outros. Ninguém se lembra de nada. É amnésia colectiva. Põem o braço no ar quando lhes mandam, com pressa de ir para casa.
Já ninguém se interessa pelo circo a não ser os artistas.
Os bilhetes? Esses estão sempre pagos!
E para o ano, há mais.
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