sexta-feira, janeiro 21, 2005

Não desculpo, não senhor!

Sócrates fez-me ontem lembrar aqueles ladrões profissionais muito indignados por terem sido apanhados a roubar nas lojas chiques, e fazendo um escarcéu pelo facto de ninguém acreditar que eles não sabem como aqueles artigos foram parar dentro da sua própria mala.
E no auge da indignação recusam-se a aceitar desculpas do gerente da loja, que depois de recuperar o produto do roubo, quer é ver-se livre do incómodo da sua presença, nem que para isso tenha de dizer aquilo que não sente, só para não chamar a polícia e montar uma cena de faca e alguidar.
Santana, na excitação do discurso de campanha ligou Sócrates a uma nomeação daquelas de última hora do governo de gestão de Guterres. Reconhecendo que se enganou na personagem e no cargo, pediu desculpa a Sócrates não deixando, no entanto, de dizer que outros, que não aquele, tinham sido nomeados pelo PS à beira da entrada do novo executivo.
Como se isso fosse justificação para o PSD adoptar o mesmo procedimento que criticou outrora!
Sinceramente, não percebo porque é que estes parceiros continuam a achar que os portugueses são todos parvos e que só eles é que são os espertos.
Duvido que alguém não conheça pelo menos um caso de nomeação para cargo público apenas por razões partidárias, sem qualquer critério de competência técnica. Até mesmo na Murtosa!
E se não conhece basta ler os Diários da República da II Série onde são publicadas todas as nomeações e respectivas datas de despacho. Depois é só fazer as contas, porque até o vencimento vem lá escarrapachado.
Ora, se assim é, só não nunca se elaborou uma lista de nomeações de cargos públicos nos dois ou três meses anteriores às eleições porque nunca se quis mostrar a verdade ou se porque os interessados não querem perder a esperança de, um dia, também poder vir a comer uma parte do “peru recheado”.
Um dia, quando Portugal for um país moderno, sem laivos de terceiro mundo, vai ser possível definir dentro do aparelho do Estado quais são os lugares que devem ser de nomeação política, e perdurar em simultâneo com as legislaturas, e todos os outros (milhares) que, independentemente do partido do poder, devem ser o garante da estabilidade e do progresso dos serviços públicos sem terem de lhe incutir um cariz político.
Ao fim de trinta anos de democracia já esperava que estes jovens políticos, que na altura da revolução estavam ainda a acabar o liceu, tivessem um bocadinho mais de consideração pela inteligência dos portugueses.

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