terça-feira, janeiro 11, 2005

Seja como for, está julgado

Aos poucos, transformámo-nos num país de julgadores. E para os haverem têm de haver os julgados. Aqueles que não têm direito àquele princípio básico do direito de se considerarem inocentes até à decisão judicial, ou á apreciação popular.
Naturalmente que, neste cenário, são fundamentais os acusadores, do tipo “Jornal de Cordel do Mais Rasca que Pode Haver” e afins.
Quando saí esta manhã, as rádios traziam a lume qualquer coisa que tinha vindo publicada num jornal diário acerca dum ministro dum governo demissionário que tinha ido mais cedo do que devia para S. Tomé e Príncipe a fim de gozar um dia de férias à custa do erário público, ao mesmo tempo que assinaria, mais tarde, um protocolo qualquer.
À hora do almoço, quando voltei a entrar no carro, já o chefe desse ministro, que por acaso também não estava cá, se mostrava muito incomodado com a notícia, e considerava a atitude do ministro bastante inoportuna, só esperando a sua chegada a Lisboa para lhe puxar as orelhas até ao chão.
À tarde, quando regressava a casa, o candidato a primeiro ministro do principal partido, por enquanto na oposição, dizia que “não tinha tempo para falar dos mergulhos do ministro, porque andava mergulhado nos problemas do país (sic)”, mas não deixou de afirmar, como quem dispara à queima roupa no coração do inimigo : “O povo português já percebeu o que se passou!”.
Nem mais. Sem apelo nem agravo, o Sarmento foi sumariamente condenado sem direito a julgamento, como sendo um doidivanas que só quer é gozar férias à conta do povo.
Ninguém o ouviu, nem está interessado em fazê-lo. As eleições não se ganham com justiça, nem com o conhecimento da verdade.
O pântano alastra-se, e o que por aí vem, não deixa transparecer qualquer melhoria de comportamento. Os julgamento na praça pública estão para ficar, ou não fossem as mais altas figuras da Nação autênticos inquisidores.

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