sábado, março 12, 2005

Bananas & Aspirinas

O XVII governo constitucional tomou posse hoje.
Sócrates discursou pela primeira vez investido do cargo de 1.º ministro de Portugal.
À hora que foi, e com o sol que estava, não tive pachorra para o ouvir, tanto mais que à noite teria, de certeza, acesso ao resumo televisivo, bem menos fastidioso.
Ao que parece resultaram do discurso três ideias essenciais difundidas pelas televisões: que os hipermercados vão passar a poder vender medicamentos que não careçam de receita médica; que Portugal não irá inflectir a sua política em relação aos Estados Unidos; e que o referendo do Tratado da União Europeia deve coincidir com as eleições autárquicas de Outubro.
Não sei se foi só isto que ele disse, mas foi só disto que se falou!
Gostaria hoje de reflectir acerca da questão da liberalização dos chamados medicamentos de venda livre.
Parece que o princípio subjacente a esta ideia é o de baixar o custo da factura dos medicamentos para ao cidadão na expectativa dos pretensos preços mais económicos proporcionados pelas grandes superfícies.
À primeira vista, a concepção pode parecer interessante.
Podia ser mais interessante se a liberalização abrangesse por exemplo as padarias ou os bancos, sempre tão ávidos de alargarem o âmbito da actividade.
Se uma pessoa está com tosse, ou lhe dói a cabeça, e os sintomas surgiram, por sorte, à hora das compras, pergunta a uma daquelas raparigas que costuma andar a encher a prateleiras com pacotes de massa qual o melhor xarope ou comprimido, e quando ela encolher os ombros, mete para o carrinho aqueles da marca mais conhecida que, de certeza, não são genéricos.
Mas eu acho que o mal não vem ao mundo por aí, tanto mais que não estou a ver um murtoseiro ir de propósito a Aveiro para comprar umas gotas para meter no nariz.
Agora eu pergunto é com que direito se vai continuar a exigir às farmácias que continuem abertas toda a noite, porque prestam um serviço público, e se permite que as grandes superfícies não o façam. Isto tudo sem as farmácias pensarem imediatamente em fazer reflectir nos preços dos medicamentos que vendem em exclusivo todo aquele lucro que deixaram de ter com o que deixaram de vender.
Isto já para não falar no problema das farmácias perderem a receita dos medicamentos que são pagos a 100% pelo cliente e ir ficando só, e cada vez mais, com a receita que o Estado paga, normalmente com mais de uma ano de atraso.
A Associação Nacional de Farmácias vai evitando as rupturas de tesouraria mas cada vez vai cobrando mais o que, mais uma vez, se reflectirá no bolso do cliente.
Infelizmente já nos vamos habituando que cada governo que inicia funções começa sempre por falar no problema dos medicamentos.
Mas ainda está para vir o ministro que obriga o fabricante a produzir caixas de medicamentos com o número exclusivo de comprimidos necessário, em média, a cada tratamento, ou possibilita que sejam os centros de saúde a distribuírem os medicamentos pelos seus doentes (também no número exacto das neecssidades, claro está).
Dizem alguns que tudo não passou dum fait-diver para distrair a malta.
Só que o Carnaval já lá vai, e as dificuldades a sério não param de crescer.

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