quarta-feira, junho 29, 2005

Continua a agitação social

Mais de 30.000 enfermeiros encontrar-se-ão hoje em greve segundo as estimativas dos sindicatos.
Pouco interessa o número exacto. Aliás nunca ninguém percebeu, ao longo dos últimos 30 anos, o interesse das discussões entre governos e sindicatos acerca das mais díspares percentagens sobre a adesão às greves.
Já se sabe que todos tentam reclamar para si a negação dos resultados dos outros.
Para a opinião pública, julgo que o mais importante é ter a noção se o número de grevistas é muito ou pouco significativo.
Neste caso, os enfermeiros manifestaram-se maciçamente contra as medidas do governo, em particular no que respeita à determinação de passar a idade da reforma dos 57 para os 65 anos.
Alegam, tal como os professores e educadores de infância, por exemplo, que a profissão a que estão sujeitos provoca um desgaste superior à média, e que a partir de determinada idade deixam de ser capazes de executar as suas funções com eficácia.
Considero admissível e defensável tal pretensão em termos genéricos.
Como em todas as profissões, haverá excepções que acabam por confirmar a regra, havendo pessoas que são capazes de manter todas as capacidades até muito tarde.
Penso que a mágoa dos enfermeiros não será tanto pela perda de uma regalia mas mais pela forma como o governo expressa para a opinião pública a necessidade de tratar todos por igual, dando a entender que há por aí um grupo de malandros de bata branca.
Em resumo, o partido que tantas vezes gritou “que há vida para além do défice” está agora atolado nesse mesmo défice e impedido de fazer aquilo que só se pensa quando se está na oposição.
Quanto às reivindicações destes importantes profissionais da saúde, julgo que terá de ser ao nível dos descontos que o governo deve abrir a porta a alguma liberalização.
Ao considerar-se que a idade dos 65 anos é a idade de referência para a reforma de todos os trabalhadores do sector privado ou público, isto quer dizer que o sistema da segurança social só deverá, por regra, pagar as reformas do Estado a partir desta idade.
Aos trabalhadores não deve, no entanto, ser negado o direito de se reformar mais cedo desde que o cômputo total dos descontos efectuados ao longo da sua carreira contributiva seja o mesmo, independentemente da idade de reforma.
Ou seja, os trabalhadores teriam de optar quando começam a vida activa por uma de duas vias: ou descontar em menos anos (até aos 57 no caso dos enfermeiros, por exemplo) aquilo que descontariam se estivessem ao activo até aos 65; ou constituir um Seguro Poupança com recursos próprios que lhe garantam uma reforma em sistema privativo até que chegue a da Segurança Social.
Este sistema existe nalguns países desenvolvidos mais liberais e liberta postos de trabalho para as gerações vindouras, dando alento àqueles que preferem um esforço maior em menos anos saírem mais cedo da vida activa.
Portugal sofre dum mal que nunca mais nos deixa : impede as pessoas de escolher e de tomar opções de vida obrigando-as a regras rígidas que fomentam a passividade e o “deixa andar” em detrimento da competição e do esforço.

Sem comentários: