quarta-feira, janeiro 04, 2006

Incontinência verbal

Jorge Sampaio, num último sopro de protagonismo presidencial, chamou o ministro da economia a Belém para lhe transmitir a sua preocupação pelo facto do governo querer aceitar a sugestão dos accionistas privados da EDP que propuseram um assento no Conselho Superior da empresa a todos os accionistas que tivessem mais de 2,5% do capital social.
Com esta proposta, a Iberdrola, pela mão do ex-ministro do Ps Pina Moura, concorrente espanhola da EDP, e detentora de mais de 5% do capital da empresa portuguesa, ganha um assento num órgão que tem acesso a informação privilegiada, nomeadamente às opções estratégicas e concorrenciais.
Sampaio interpelou o governo argumentando que está em causa a defesa de um sector estratégico nacional como é o da energia.
Em uníssono, os candidatos presidenciais que esperam mais de 0,01 % dos votos, fizeram coro com Sampaio, afirmando a sua convicção de que se fossem eles os presidentes em exercício imediatamente interviriam no memo sentido chamando o governo à razão.
Então mas quatro desses coristas não se insurgiram violentamente na semana passada contra Cavaco Silva quando ele sugeriu ao governo a criação de uma secretaria de estado para acompanhar as empresas estrangeiras instaladas em Portugal a fim de conter a sua deslocalização, alegando que o candidato se estava a intrometer na esfera exclusiva do governo?! Então e esta intervenção de Sampaio não é uma intromissão clara numa área que só ao governo compete?
Como é que agora alegam que se trata de um sector estratégico nacional quando o Estado português alienou nos últimos anos a maior parte do capital da EDP para tapar os buracos orçamentais, e ninguém se preocupou com isso?
Então a EDP não é uma empresa com capital mairitariamente privado?
Será que Sampaio ainda não percebeu que a UE não está disposta a aceitar por muito tempo que Portugal mantenha Golden Share's como tem na P.Telecom em que o Estado com meia dúzia de acções controla a empresa?
A política à portuguesa é isso mesmo : um baile de baratas tontas em que as damas ora se fazem muito rogadas oram piscam o olho ao galã.

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