
As pessoas são vistas como mais brancas, mais louras, mais altas, mais ricas, mais bem vestidas, mais saudáveis e com mais formação escolar. Os países têm óptimos hospitais, excelente segurança social, baixo nível de criminalidade, elevado grau de desenvolvimento tecnológico. Enfim, têm tudo aquilo que os outros aspiram e que os colocaram num mundo aparte onde era muito difícil entrar…mesmo até de visitar, por causa das coroas, já que do euro nem querem ouvir falar.
Em missão militar, visitei três dessas monarquias na década de oitenta: Dinamarca (Copenhaga), Suécia (Gotemburgo) e Noruega (Oslo). Era, sem dúvida nenhuma, um mundo diferente. Tudo muito limpo e ecológico. Ambientalmente, preocupavam-se com aquilo que os outros nem nunca tinham ouvido falar. As religiões não dominavam as ideias, apesar de não serem agnósticos.
Os escandinavos são pessoas livres e abertas para pensar, falar, escrever e sonhar. Socialmente, muitos sistemas aspiram a ser como os deles, quase como se de um mundo imaginário se tratasse.
Diferente de toda a outra Europa, era evidente que nos países nórdicos não habitavam emigrantes de origem árabe que se notassem. Africanos também não; alguns negros mas de origens ligadas a antigas colónias holandesas. Chineses, nem vê-los. Asiáticos em geral eram poucos, e os que haviam já tinham traços pouco vincados.
Para aqueles povos, liberdade de expressão não chega sequer a ser um valor a defender: pura e simplesmente não se chega nunca a pôr em causa que não se possa escrever, dizer, desenhar, pintar, construir, imaginar, sem total, absoluta e indiscutível liberdade.
A população escandinava não é indiferente à religião. São praticamente todos luteranos, acreditando que ter fé em Jesus Cristo é condição suficiente para a salvação.
Habitualmente longe das notícias catastróficas dos telejornais, a Dinamarca dominou as atenções do mundo inteiro nos últimos dias.
Em Setembro do ano passado, o jornal Jyllands Posten publicou uma dúzia de caricaturas do profeta Maomé nas quais muito pouca gente reparou. Repentinamente, tudo mudou.
Não sei se foi por causa da vitória do Hamas nas eleições palestinianas; se por se aproximarem as eleições em Israel, já sem Ariel Sharom; se por causa da retoma das experiências nucleares no Irão e a sua perigosa aliança com a Síria; se por não se resolver os conflitos no Iraque; ou se é a Al-Qaeda a orquestrar e a potenciar os conflitos da região. O que é certo é que as caricaturas certamente inocentes na mente do autor, se tornaram num vulcão em erupção com consequências imprevisíveis.
Pessoalmente, não me agrada ver caricaturas jocosas acerca de Jesus Cristo ou de N.Srª de Fátima. No entanto não participaria nunca em manifestações públicas brutais e fanáticas contra os autores ou quem as publicasse, muito menos contra os países de origem dos desenhos.
Penso que a grande diferença entre a cultura do mundo ocidental e a do mundo islâmico reside no grau de facilidade com que se pode atingir o radicalismo irracional.
Julgo, por isso, que é enorme o equívoco ocidental ao querer implementar uma democracia no coração do mundo árabe.
Os americanos “abriram a caixa de Pandora” quando invadiram o Iraque. Deram uma oportunidade intemporal ao terrorismo radical islâmico de intentar permanentemente contra a liberdade em que estamos habituados a viver.
O secretário-geral da ONU, no meio deste fogo que arde intensamente, afirmou que a “liberdade de imprensa deverá ser sempre exercida no pleno respeito pelas crenças e pilares de todas as religiões”. O que quererá dizer esta expressão tão ambígua? Liberdade sim, mas só até ao ponto em que não incomode o mundo árabe?
O convívio entre culturas torna-se cada vez mais difícil.
Ao contrário da maioria dos políticos não vejo é que haja solução!
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