quinta-feira, janeiro 04, 2007

Pouco faltava para as sete horas da manhã do passado dia 29 de Dezembro quando a embarcação de pesca artesanal "Luz do Sameiro", de Vila do Conde, naufragava a escassas dezenas de metros da praia da praia da Légua, em Pataias, a alguns quilómetros a norte da Nazaré.
No acidente pereceram seis pescadores, tendo o helicóptero da Força Aérea resgatado do mar o único sobrevivente.
No local verificava-se por altura do sinistro uma ondulação de 2,5 metros, uma temperatura do mar da ordem dos 16ºC e ventos moderados de 15 a 20 quilómetros por hora.
Com três corpos ainda por encontrar é perfeitamente compreensível que os pescadores e os seus familiares gritem a sua angústia e reclamem maior número e mais eficientes meios de salvamento.
Todos sabemos que é impossível ter meios em toda a nossa imensa costa e que só por um mero acaso a proximidade desses meios seria suficiente para resgatar do mar um náufrago inanimado ou gravemente ferido.
Políticos de todo o leque partidário, em larga maioria incultos sobre estas matérias mas sempre oportunos em captar a atenção dos meios de comunicação social nem que seja para soltar a mais bárbara asneira, começaram a bramar contra a morosidade da actuação dos meios de salvamento e de socorro afirmado dar eco aos lamentos dos que sofrem, mas mais não fazendo do que seguir o caminho das propostas de medidas que nunca chegam a ser implantadas ao invés de questionar os problemas no seu essencial.
Rapidamente constituiu-se no Parlamento, com o apoio de todos os partidos, uma comissão para ouvir toda a gente e mais alguma acerca da demora na intervenção dos meios.
Mais uma comissão que não serve para nada a não ser alimentar e empatar a comunicação social durante uns dias.
Do muito que já li e ouvi sobre este assunto, e pela experiência recolhida na participação em dezenas de operações navais SAR (Search and Rescue) julgo que falta à maioria destes políticos tão nervosos fazer três perguntas :
Quantos coletes iam a bordo e porque razão os pescadores não os envergavam se o mar se apresentava revolto?
Que tipo de faina de pesca estava a embarcação a praticar a quarenta metros da praia?
Porque razão o alerta não foi dado pelo mestre da embarcação através dos equipamentos de comunicação pelos canais de socorro?
Os riscos que se correm na ânsia duma faina proveitosa e quanto mais solitária melhor, a falta de treino para agir em situação de perigo no mar e a ausência de meios próprios de salvamento que em muitos casos só estão a bordo na altura das inspecções têm sido muitas vezes responsáveis pelas mortes de muitos pescadores.
Com uma temperatura da água que não é demasiadamente fria para conduzir a uma rápida situação de hipotermia, com roupa adequada ao trabalho no mar e na proximidade da praia, um náufrago com colete ou dentro de uma balsa salva-vidas tem elevadíssimas probabilidades de sobreviver ou ser recolhido por um meio de salvamento.
É claro que aos tristes companheiros e às famílias sabe melhor nestas alturas ouvir palavras de conforto em vez de palavras críticas à despreocupação e ao desleixo com que tantas e tantas vezes os pescadores enfrentam a dura vida do mar ou da ria.
Talvez por isso ninguém queira falar nisto a sério.
Talvez por isso continuem a morrer tantos pescadores.

1 comentário:

BB disse...

João,
O teu post sobre esta matéri aé pertinente e muito provavelmente, só nos socorrendo do bom senso, achamos que tens absoluta razão, no entanto o bom senso, em nosso entender tem que imperar e se falta ou faltou de um dos lados aparentemente dos pescadores) não deveria faltar do outro ou seja de quem tem a responsabilidade de socorrer e neste caso a falta de bom senso foi gritante.
Foi seguido, tanto quanto lemos, á risca todo o procedimento operacional a executar em situações destas ou seja tudo deveria (e foi) canalizado via o centro de operações do Montijo cujo resultado,foidesastroso quando deveria ter imperado a celeridade.A pouquissímos quuilometros da tragédia existe a Base aérea de Monte Real, onde para além de outras aeronaves se encontram estacionados Heicopteros Hallouet, os mesmos que no dia seguinte andavam no mar á procura de corpos. Dado que o tempo era de maior importancia, porque é que os Hallouete não se deslocaram logo de imediato para Pataias?
Será que o estrito cumprimento dos procedimentos justfica a perda de vidas? Poruqe é que se perdeu o bom senso? Ninguem quiz arriscar ser responsabilizado por esta quebra das normas? Comodismo ?
Enfim morrer a escassos 50 metros da praia é o retrato pobre do paí sem que vivemos.