quarta-feira, outubro 06, 2004

Se quiseres, vai de carro!

Foi hoje inaugurada a ligação ferroviária entre Setúbal e Lisboa. Era uma reivindicação das populações. Mas era também uma reivindicação das empresas, particularmente da AutoEuropa, porque muitos dos seus milhares de trabalhadores vivem para os lados da capital, e da cidade de Almada, e perdem imenso tempo e dinheiro nas deslocações de/e para o trabalho.
E apesar dos excelentes índices de produtividade comparativos com as restantes fábricas mundiais da Ford / Volkswagen, o índice de absentismo na fábrica portuguesa (o maior investimento fabril instalado no país) é um dos piores.
Diz-se que o principal objectivo deste comboio é afastar os carros dos centros urbanos. Se for bem planeado, com parques de estacionamento espaçosos junto às estações, é uma verdade inquestionável.
E foi isso que me fez pensar no que se passa na Murtosa.
Para chegar à rede ferroviária é preciso passar pelo autocarro primeiro.
Os transportes rodoviários no Concelho não deram pela queda do muro de Berlim, quiçá pelo 25 de Abril.
É claro que algumas viaturas são diferentes, mas as que se dedicam ao verdadeiro transporte público, estão tudo menos adaptadas à função. Ou melhor…estão adaptadas à função de servirem para tudo menos para transportar o público. Desculpem o trocadilho.
Resta ao dito público, usar a viatura própria, contrariando o protocolo de Kyoto e gastando o dinheirinho que ganha no segundo carro e às vezes no terceiro, e é se quer ir trabalhar.
Sim, porque a primeira coisa que perguntam a um murtoseiro que procura um emprego em Aveiro ou Ovar é se tem viatura própria porque toda a gente sabe que os transportes são o que são.
Mais uma penalização, a juntar às outras.
Quando é que foi a última vez que mudaram as rotas das carreiras? E ajustaram os horários? E combinaram com a CP? E estudaram as horas a que fazem falta para as pessoas? E que tipo de autocarros são precisos?
Será que nada mudou entretanto nestas décadas?
Ou será que o transporte público para a Murtosa não representa o mesmo que para o resto do país?
Então é melhor esquecê-lo e retirar o monopólio a uma coisa que é tudo menos aquilo que deve ser e deixar o mercado ditar as suas regras.
Ou ninguém quer ligar ao facto da Galp Energia ter efectuado hoje mais um aumento dos preços dos combustíveis em 1,5 cêntimos por cada litro (gasóleo - 0,849 €; gasolina s/chumbo95 - 1,079 €; gasolina s/chumbo98 - 1,139 €), elevando-os para um patamar 20% acima de Janeiro deste ano.
Qualquer dia vamos ter montes de IC1’s por todo o lado …para andar de bicicleta, porque os ordenados não dão para tirar o carro da garagem.
E como a Murtosa cria os empregos que todos sabemos, vai ser preciso levantar cedinho.
É preciso questionar se a Câmara deve manter o financiamento da Autoviação da Murtosa no que se refere ao transporte de crianças para a escola (de qualquer maneira segundo eles dizem) sem exigir que a empresa, sem competição no mercado, preste devidamente o serviço público.

1 comentário:

kimikkal disse...

No fundo é uma pescadinha de rabo na boca: como não existe concorrencia a AVM limita-se a fazer os mínimos olimpicos e a praticar o serviço com a mesma qualidade de há 20 anos, com os preços de agora, claro...Ora isso leva as pessoas a evitar o transporte público, o que leva a que ninguém se interesse por estes trajectos, o que leva à falta de concorrencia, o que leva à AVM praticar um serviço...