segunda-feira, novembro 15, 2004

Murtosa no seu pior (XIII) - Será que é Ramalah?

Há dias em que gostava de não viver na Murtosa. São aqueles dias em que vemos, com olhos de ver, aquilo que está mesmo à nossa frente mas fingimos que não existe.
Calhou ter cá uns amigos no fim-de-semana e apetecer-nos uma boa caminhada para facilitar a digestão e retemperar forças para a degustação nocturna.
A noite estava fresca e seca, e como as montras não abundam, acabámos por calcorrear algumas artérias de forma aleatória.
Demos de frente com o edifício dos CTT (onde já habitei) e, perante a fachada iluminada, um deles, habitualmente incisivo e sempre com boa disposição, não resistiu a dizer : "Parece que estamos ... em Ramalah!"
Reconheci a oportuna comparação que o meu amigo estabeleceu e a sua capacidade de sintetizar, numa única palavra, o aspecto exterior brutalmente descuidado da edificação.
Que os Correios de Portugal desprezem a Murtosa, transformando da forma como o fizeram a prestação de serviços de distribuição, já nós sabemos. Agora que, ainda por cima, num espaço aberto, em frente à Câmara Municipal, à vista de toda a gente que se desloca à autarquia, deixem degradar àquele ponto as fachadas, esquivando-se a uma simples pintura exterior que, imediatamente, transfiguraria o prédio, já classifico de abusador desleixo, para não dizer abandono.
Mas talvez o maior problema, esteja na dificuldade da Câmara Municipal em se sentir à vontade para interpelar a administração daquela empresa apontando-lhe a obrigação de intervir, quando, mesmo ali ao lado, prima por passar licenças de utilização dos prédios (entre a GNR e a Auto-Viação) deixando ao génio inventivo dos moradores a capacidade de improvisar uns passeios para evitar que se atolem em lama ao entrar em casa.
E quando uma população se habitua a viver, durante meses ou anos, no meio daquilo que quase parecem trincheiras, e perde a capacidade de exigir o cumprimento das obrigações por parte dos empreiteiros aos serviços de fiscalização municipais, está aberto o caminho para a degradação do sentido crítico construtivo.
Há sempre quem diga que são coisas passageiras!
Mas o brio dumas gentes não se compadece deste desinteresse a que nos querem deixar votados.
Só quem for cego e surdo pode ser capaz de gostar de viver ... em Ramalah!

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