Quando era criança, o pequeno Santana dizia a toda a hora aos amiguinhos : "Eu quero ser rei!"
De entre os pequenos, o Gomes e o Henrique, eram os mais fervorosos apoiantes da ideia, já que no fundo aspiravam a um título nobiliário, fosse ele qual fosse. Talvez marqueses.
Santana foi crescendo e chegou à Corte onde os outros nobres da altura se encarregaram de o meter no seu lugar.
Mas Santana cerrava os punhos e dizia ao seu séquito: "Estejam descansados, eu hei-de ser rei!"
Nunca quis trabalhar a sério. Preferia o desporto, a festança e a política.
Já com idade para ter juízo, começou a assustar a nobreza com a sua determinação em sonhar vir um dia a ser rei, e deram-lhe um pequeno condado ao pé do mar e uma arca cheia de moedas para gastar.
Depois de gastar tudo, quis um condado maior...o maior de todos; e os nobres, pensando que Santana se ia espalhar ao comprido disseram-lhe : "Nós damos-te as armas mas vais ter de travar um duelo com o filho dum antigo rei."
Santana foi em frente e abateu o príncipe de surpresa.
Sentado no seu novo trono pensou : "E se eu fosse Papa?" Começou a sua campanha para o papado, mas logo os outros bispos lhe cascaram em cima.
Triste e acabrunhado, por ninguém o levar a sério, estava um dia a jogar dominó com o Gomes e o Henrique, quando lhe vieram dizer que o Rei Durão se ia embora para a Bélgica.
Era agora ou nunca. Mesmo que tivesse de aturar aquele Conde que em tempos escrevia jornais maledicentes e destratava tudo e todos, tinha de ser rei à força.
Apresentou-se aos nobres da sua cor como o mais indicado. Aos que não concordavam com a ideia mandava cortar-lhes o pio. Chamou os amiguinhos e disse-lhes : "Quero-os ao meu lado para mandar no povo". Eles não faziam ideia do que haviam de dizer, mas ouviram falar em coches, em pajens, em fatos novos, e deram todos as mãos.
O Papa Jorge chamou-o e disse-lhe : "Olha Santana, se eu te nomear Rei tu nunca mais queres ser Papa?"
Não, disse-lhe o outro. Eu vou ser o rei da estabilidade, e vou dar tudo o que o povo quer e que aquela megera lhes tirou.
E o Papa coroou o rei Santana, e deu os títulos que ele queria para os nobres amigos.
E Santana reinou, por pouco tempo é certo, mas o suficiente para deitar por terra todo o sacrifício do povo nos últimos anos, e deixar que o reino perdesse o pouco prestígio que já tinha.
E Jorge perguntava ao Clero : "Porque é que estão a olhar para mim com essa cara?"
Quando falares, cuida para que as tuas palavras sejam melhores que o silêncio "Provérvio Indiano"
segunda-feira, novembro 29, 2004
O rei vai nu
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2 comentários:
Se fosse uma estória seria interessante e bem contada.Quando as estórias mechem na realidade e o povo é sempre o bombo dá que pensar.
Qualquer semelhança deste texto com uma autobiografia é pura coincidência.
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