Instalou-se há muitos anos na maioria dos portugueses a ideia de que se deve adquirir casa própria e não arrendar. Contas feitas, ao preço a que estão as rendas, mais vale contrair um empréstimo do que deitar o dinheiro à rua uma vida inteira e não ter nada de palpável.
Os bancos foram os principais dinamizadores deste conceito por razões óbvias.
A contribuir para fortalecer esta realidade, no tempo do estado novo difundiu-se a noção de estabilidade no emprego como objectivo que qualquer trabalhador deve perseguir para o bem estar da família.
O facto é que a simbiose destes dois conceitos se tornou explosiva nos dias de hoje. Primeiro porque os empregos estáveis são uma espécie em vias de extinção; segundo, porque a compra da dita casa própria pressupõe a obtenção de rendimentos regulares e crescentes que estão ao alcance cada vez de menos gente.
Enquanto estes conceitos vigorarem, ao contrário do que acontece nos países mais desenvolvidos, os jovens terão de decidir por um local, quase definitivo, para estabelecerem a sua vida.
E não é onde um apartamento custa mais do que em muitas cidades, onde a oferta cultural moderna não existe, onde a qualidade dos cuidados de saúde agoniza mais que os próprios doentes, que os jovens murtoseiros, que procuram avançar nos estudos universitários tenderão a fixar-se.
E se em tempos a vaga emigratória dos jovens mudou a face da Murtosa, dá-me a sensação que já está em curso uma nova vaga migratória para as cidades que agora os acolhem e que, aos poucos, lhes vão mostrando o que por cá não conseguem encontrar.
Vai a Murtosa continuar a ser madrasta para os seus filhos!
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