sábado, dezembro 18, 2004

Respeito, mas...

Quando eu era miúdo respeitava-se muito os pais, os avós, os irmãos mais velhos, a família, a guarda, o senhor prior, a professora, a catequista, o senhor doutor, o senhor engenheiro, os senhores da televisão, os das finanças, o juiz, sei lá, uma catrefada de gente que nos fazia encolher até ficar tão pequeninos que não abríamos a boca a não ser que nos obrigassem.
Daí que a palavra respeito ficou sempre associada a “temor”, “medo”, “acatamento”, “receio”, “obedecer”, “seguir”, “cumprir”, “venerar”, “aceitar”, “suportar”, “considerar”.
São pelo menos esses a grande maioria dos significados que à palavra respeito conferem dezenas de dicionários e enciclopédias portuguesas (para além das dos PALOP’S).
Com o 25 de Abril, acabou o respeito, ou seja, foi o fim do “temor”, do “medo”, do “acatamento”, do “receio”, do “obedecer”, do “seguir”, do “cumprir”, do “venerar”, do “aceitar”, do “suportar”, do “considerar”.
Mas a palavra ficou no léxico português até porque não há nada como tratar as pessoas, as instituições e as coisas com muito respeitinho.
Daí a origem da expressão : “o respeitinho é muito bonito!” .
Já não era o respeito, era o filho : o respeitinho. Ou seja, tudo aquilo que o do tempo da outra senhora queria dizer, mas muito mais pequenino, menos conformado, mais irreverente… a soar a falso.
Do meu ponto de vista, mais valia eliminar esta palavra da língua portuguesa e arranjar outra que nem fosse o pai nem o filho. E já agora : nem o espírito santo.
E digo isto porque desde que Sampaio enfiou o Sr. Santana em S. Bento que não ouço outra coisa que é os políticos, de uma ponta à outra do espectro político, a dizer : “Respeito a decisão do Sr. Presidente da República, mas discordo…de tudo o que ele fez, de quem ele nomeou, do que ele disse, do que não disse, do que ficou por fazer, da cor da camisa, das calças e do modelo das cuecas.”
Então mas onde é que está o respeitinho?!
Fugiu.
Por isto tudo, e pelo amor de Deus, acho que de uma vez por todas as pessoas e os políticos têm que dizer o que pensam com coragem e determinação, sem se preocuparem nem com o respeito, nem com o respeitinho… mas, sobretudo, sem faltar à verdade.

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