sexta-feira, fevereiro 11, 2005

Choques

Quando ouço falar da aplicação de um choque tecnológico que se pretende lançar no País depois de 20 de Fevereiro temo, mais uma vez, que continuemos governados por quem pouco sabe sobre a realidade das empresas, sobretudo industriais, em Portugal.
Aliás, tem sido assim desde o 25 de Abril, uma vez que nunca um empresário experiente assumiu continuadamente a condução dum governo.
Estranha realidade, e talvez uma das fortes razões para o estado da nossa economia.
Há algum tempo iniciei contactos com a Agência da Inovação, S.A. com vista à criação, na empresa onde trabalho, de um Núcleo de Investigação e Desenvolvimento Tecnológico do Sector Empresarial (NITEC), onde se irão estudar novos produtos, aplicação de novos materiais e novas tecnologias de fabrico.
Para que possam ter uma ideia de como estas questões estão tão pouco desenvolvidas, basta constatar que as candidaturas entregues no País inteiro para este programa entre 2003 e 2004, foram …39.
Escusado será dizer que a grande maioria dos empresários portugueses nunca ouviu falar da existência da ADI, entidade tem o seu capital subscrito em partes iguais pelo Ministério da Ciência, Inovação e Ensino Superior, através da FCT - Fundação para a Ciência e Tecnologia (50%), e pelo Ministério das Actividades Económicas e do Trabalho, através do IAPMEI (25%) e da PME - Investimentos (25%), e que se destina a promover a inovação e o desenvolvimento tecnológico facilitando o aprofundamento das relações entre o mundo da investigação e o tecido empresarial português é o objectivo central da Agência de Inovação.
Assim, quando se ouve falar em “choque tecnológico” pode-se pensar que se vai entrar numa nova era e num novo mundo ainda por descobrir.
Pura ilusão.
Os programas existem, estão em marcha, mas a generalidade dos empresários e das empresas, que são o único verdadeiro motor do País, é que não estão suficientemente sensibilizados para a inovação.
Um primeiro-ministro que conheça o tecido empresarial em concreto, e não apenas nos gabinetes ou nas empresas modelo, devia saber que, primeiro, tem de provocar uma grande revolução cultural nos empresários mostrando-lhes que é preciso inovar, e profissionalizar a gestão.
Depois então, que se fale dos choques, sejam eles fiscais, tecnológicos ou outros.

4 comentários:

Anónimo disse...

Com essa argumentação toda, ainda consegues encontrar justificação para que este país fosse gerido por um empresário??? Deus me livre. A esmagadora maioria dos empresários portugueses apenas buscam o lucro fácil que lhes permita bons carros, fatos e boa vida. A empresa é um meio. Jamais um objectivo. A tecnologia exige investimento... muito investimento e muita sensibilização. Qual a empresa portuguesa que investe em design português? Raras. Compram a solução ou mandam-na executar fora de Portugal, lucrando mais. Para si, claro.
Claro que esta "coisa" dos choques é uma mania de todos, tal como as paixões há 5 anos atrás... passam.

João Cruz disse...

Empresário não é praga Manuel. Não vejo porque é que qualquer um pode ser "gestor do país", desde que não seja um empresário. Ou será que é preciso ser Eng.º ou Dr. formado , criado e experimentado no meio não empresarial para se poder ser governante?! Temos exemplos de sobra à vista para deitar por terra essa teoria.
De qualquer forma parece que estamos de acordo quanto à necessidade de fazer mudar a mentalidade dos empresários de forma a fazer compreender novas realidades.
O empresariado português, centrado das micro e pequenas empresas não teve, nem tem interesse em ter, qualquer tipo de formação para ser empresário.
Julga ter nascido com esse dom, ou que o adquirirá apenas com a experiência.
Tempos houve em que a experiência de vida foi suficiente para surgir alguma capacidade para fazer cerescer uma empresa.
Hoje isso acabou, mas grande parte do empresariado ainda é desa geração. Por isso se vêem morrer, todos os dias aquelas empresas que não se prepararam para os dias de hoje.
Talvez depois,as coisas evoluam. Assim não.
Quanto ao design, posso-te dizer, por experiência própria no ramos onde actualmente trabalho, que a compra de maquetes com recurso ao estrangeiro são uma forma bastante cara, mas inevitável pela simples razão que no mercado europeu se apresentas uma maquete do Zé dos Anzóis (que até pode ser excelente) ninguém compra. Mas se a peça é desenhada pelo "Fulano de Tal - Inglês ou Americano" até pode ser uma banhada, mas vende.
É nisso que os Presidentes da República e os Governos podem interferir lançando essses nomes no mercado mundial.
E não há dúvida que arquitectos, escritores, pintores, estilistas, etc, portugueses se lançaram e tiveram sucesso no mundo inteiro.
Sobretudo tiveram a capacidade de ver horizontes alargados!

Anónimo disse...

Sim, mas há muitos de já deviam estar na reforma e só empatam quem quer progredir e trabalhar para isto andar para a frente.

Anónimo disse...

Quero eu dizer, empresários, que odeiam computadores e têm raiva a quem sabe mexer.
Foi uma guerra minha quase 10 anos.