quarta-feira, março 16, 2005

Contragosto

Li há uns dias que o edifício Tavares Gravato ia, em breve, ser recuperado para vir a funcionar como arquivo municipal.
As inúmeras serventias que ao longo dos anos foram dadas àquele edifício incutem a muitas pessoas, que de uma forma ou de outra por ali passaram, um sentimento de nostalgia que as leva a desejar que uma obra deste tipo se concretize, sobretudo para que as memórias não morram.
Mesmo que essa recuperação custe mais do que fazer uma obra de raiz no local adequado e com potencial de crescimento e polivalência.
Mesmo que o edifício se localize numa rua onde não há lugares de estacionamento.
Mesmo que no fundo, à semelhança, por exemplo, do que aconteceu com a biblioteca municipal de Estarreja, nada mais se aproveite do que uma fachada, e se condicione, em parte, uma obra que devia obedecer a novos conceitos e tecnologias a algo já existente que foi concebido para outra função que não um arquivo.
Mesmo que um arquivo municipal fique a uma distância que não é propriamente ir num pé e vir noutro da própria Câmara.
Há sempre nestas decisões um aproveitamento da incoerência que existe na gestão de dinheiros públicos no todo nacional, fazendo com que sobre nos cofres duns organismos e que falte nos de outros.
Parece-me que o que está subjacente a este tipo de decisões que todos os dias acontecem por esse País fora, é que toda a gente anda à procura ou à espera de receber um monte de dinheiro caído do céu, para depois fazer obras que, apesar de desajustadas, ficam supostamente baratas.
Um bocado na senda daquela publicidade que nos leva a comprar dois pelo preço de um mesmo que não se precise de nenhum.
Continuando a viver destes pequenos desperdícios, que se vão somando dia após dia, e que a nós até nos podem agradar e encher de orgulho porque conseguimos sacar uns milhares para a nossa terra para rejuvenescer aquilo que já ameaçava ruína, Portugal vai ficando mais pobre.
Em vez de se caminhar em direcção ao essencial, ruma-se ao acessório como se estes dinheiros não custassem a ninguém.
Tenho pena que assim seja, não por não gostar de ver o edifício que foi o primeiro Quartel de Bombeiros rejuvenescido, mas por preferir, de longe, que este dinheiro, que pode matar alguma saudade, não seja aplicado numa infra-estrutura que ajude a Murtosa a andar para a frente.

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