sexta-feira, junho 24, 2005

Sinais do tempo

A contestação social sobe de tom, como é normal, quando qualquer governo aperta o cinto aos cidadãos, particularmente quando o faz pela via do aumento dos impostos e da perda de regalias.
A um governo do espectro partidário da esquerda vindo da oposição, as manifestações de insatisfação dos vários sectores da sociedade são facadas que deixam cicatrizes internas profundas que se agravam com o tempo.
Há 16 anos, o governo de Cavaco Silva deu ordens para que a polícia de intervenção dissolvesse, à força de canhões de água, uma manifestação das várias polícias no Terreiro do Paço.
Polícias contra polícias em Portugal foram imagens que correram mundo, naquela altura.
Nos últimos dias, as polícias manifestaram-se de novo contra a perda de direitos, nomeadamente o seu sub-sistema de saúde.
Aos gritos desrespeitosos de “mentiroso vem à janela” dirigidos ao ministro António Costa, o governo respondeu com o silêncio envergonhado de quem não pode fazer outra coisa senão esquecer as irresponsáveis promessas eleitorais.
Não é bom para o País, num momento em que se discute e se assiste à falta de segurança por parte dos cidadãos, ouvir as polícias a dirigir-se ao governo como se de bandidos se tratassem.
Acho que estas atitudes fomentam outros “arrastões”.
A expressão silenciosa das polícias é um direito que não deve ser negado.
A manifestação ruidosa e grosseira é inaceitável numa sociedade moderna.
Se Sócrates mantiver a estratégia do silêncio à espera que a tempestade passe, penso que perderá muito rapidamente o capital político que parecia ter acumulado ao princípio.
Os tempos que se avizinham serão muito mais difíceis do que estes e têm que ser insistentemente explicados às pessoas.
Caminhar em terrenos cheios de espinhos “com pezinhos de lã” não é possível.

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