terça-feira, julho 12, 2005

Costumes à portuguesa

No percurso de carro que sou obrigado a fazer para ir trabalhar, confronto-me diariamente com uma realidade que cada vez me parece mais inverosímil face ao crescente endividamento das famílias.
Por força de um semáforo que teima irritantemente em passar a vermelho por cada meia dúzia de carros que ali passa, há alguns anos a esta parte que todos os dias fico parado durante uns segundos defronte a um café assistindo ao corrupio de gente a entrar e sair por volta das oito e meia da manhã.
Camionistas, pedreiros, jardineiros, empregados de escritório, donas de casa, reformados, professores, desempregados de rendimento mínimo, crianças pela mão dos avós ou dos pais, sei lá, toda a variedade de gente ali entra àquela hora para … tomar o pequeno almoço ou, simplesmente, tomar café.
Sempre que penso no assunto recordo que, vinte minutos mais cedo, assisti a idêntico movimento de gente nos estabelecimentos similares espalhados à volta de Pardelhas.
Penso que não me enganarei demasiado se disser que uma percentagem considerável de portugueses não toma o pequeno-almoço em casa, ainda que isso signifique uma despesa bastante superior à que teriam se o confeccionassem em casa.
Aliada a esta prática, está também uma característica predominante : o hábito de fumar.
Ora, daqui pode-se extrapolar que um número bom número de cidadãos começa o dia a gastar à volta de cinco euros entre o café ou a ½ de leite, o bolo ou a sanduíche, e o maço de cigarros.
Somando a este valor o do almoço (mesmo daqueles a preço económico que desafia as donas de casa com maior imaginação) e o do lanchezinho a meio ou ao fim da tarde, muitos portugueses chegam facilmente a uma média que não fugirá muito dos dez euros diários…pelo menos.
Estarão estes valores de despesas ao alcance assim de tantas famílias em Portugal?
Às vezes até parece que estas parangonas de que “a vida está difícil” ou “os preços estão pela hora da morte” são apenas uma mania que os portugueses têm de passar a vida a queixar-se.

1 comentário:

João Cruz disse...

Há algumas coisas que aprecio no quotidiano da vida americana, inglesa e alemã, para falar nas que conheço com algum pormenor.
Uma delas é a capacidade de assumir sacrifícios que sirvam para garantir um futuro melhor para o País.
Talvez por razões históricas, a explosão de liberdade que se deu a seguir ao 25 de Abril levou a geração que hoje está entre os 45 e os 55 a acreditar que estava na hora de adquirir muitos direitos sem se preocupar demasiado com as obrigações.
Essa geração é, como em qualquer país do mundo, aquela que dita as orientações do progresso porque é nessa classe etária que está a grande maioria dos empresários industriais. E essa geração, que depois serve de exemplo para os trabalhadores, é , em grande parte, uma geração de gente despreocupada e sem ambição a não ser ostentar uma condição de vida artificial.
Os governos têm, como diz com toda a razão, dado muito pouca importância à formação escolar e académica dos jovens. Aumentaram o número de anos de escolaridade sem que isso signifique minimamente que se saiba mais acerca das coisas que são realmente necessárias.
Por isso, e como já referi em post’s anteriores julgo que aos poucos começará um novo surto emigratório para aqueles que querem lutar mais por melhores condições de vida.
Aproveito para manifestar a maior satisfação por saber que estes escritos podem servir como ponto de encontro de pessoas que do lado de cá e de lá do Atlântico se preocupam com o que se passa no nosso Portugal, e na Murtosa em particular.