quarta-feira, agosto 31, 2005

Submisso

Manuel Alegre, a quem chamavam o candidato-poeta, deixou cair ontem metade desse epíteto. Mais precisamente a primeira metade : a de “candidato” à Presidência da República.
Nunca fui, nem muito nem pouco, interessado na poesia de Alegre. Dizem que tem coisas boas e coisas assim-assim. Acho-o maçador.
Ouvi da boca do próprio as razões que o levavam a desistir da sua em favor da candidatura do amigo Soares (O Fixe).
Fiquei triste com o que ouvi. Quando um homem que se intitula “um combatente” se deixa submeter ao que é melhor para o seu partido em detrimento daquilo que acredita ser o melhor para o seu País, ficam à mostra as poderosas teias da política.
O poeta ficou despido e envergonhado.
Confuso e indignado com as suas próprias palavras.
Fez-me lembrar o futebolista Miguel a confessar em público o seu errado comportamento só para fazer a vontade a Luís Filipe Vieira e poder partir para Espanha. Um homem vendido.
Mas entre Manuel Alegre e o jovem Miguel havia um fosso enorme em termos intelectuais, de carácter e de personalidade.
Havia mas já não há.
Ouvir de António Costa palavras de elogio à atitude de Alegre era esperado. Costa é um símbolo dos políticos de hoje.
Mas Alegre era um dos últimos políticos com garra, capaz de lutar pelos seus valores.
Alegre acabou. O partido quebrou-o, como todos os partidos têm feito a tantos outros. Acenou-lhe, quem sabe, com uma candidatura daqui a cinco anos se Cavaco voltar a perder com Soares e não se quiser sujeitar ao terceiro plebiscito.
Palmas ao Poeta dizem uns. Lenços brancos, digo eu.

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