quarta-feira, outubro 12, 2005

Um olhar como tantos outros

Depois de uma semana de interrupção, deu-me para recomeçar estes escritos com uma interpretação igual a tantas outras dos resultados eleitorais nas nossas autarquias.
A começar, saliento que, comparativamente com as eleições de 2001, apresentaram-se a este acto mais 422 eleitores, totalizando 5026. Considerando que os inscritos aumentaram apenas 126 unidades desde as últimas eleições, há uma importante redução do abstencionismo. Julgo que não foi alheio a esta realidade o facto de haver nas listas alguns jovens candidatos que provocaram a participação de outros jovens habitualmente menos interventivos. Este é, sem dúvida, um sinal positivo destas eleições.
Começando pela Câmara Municipal, cresce o número de votos para o PSD e para o PS, e continuam a minguar o PCP e o CDS-PP, que tenderão a desaparecer. É de notar que em termos absolutos, e comparativamente com 2001, o PS aumenta 275 votos (total 1497), enquanto o PSD aumenta 263 (total 3192), o que poderá indiciar que a maioria absoluta do partido laranja poderá ter tendência a estreitar-se a médio longo prazo.
Santos Sousa foi o inequívoco vencedor destas eleições, impondo-se como a figura política que mais anos esteve à frente do município. Cai sobre ele a responsabilidade de ter tido todo o tempo necessário para marcar vincadamente a evolução da Murtosa em mais de uma década como presidente da Câmara. A história julgará um dia se o que ele conseguiu fazer foi suficientemente marcante para lhe dar um lugar entre as figuras notáveis desta terra.
Quanto a Manuel Cruz, estava-lhe destinada aquilo a que chamo a “Missão Impossível” e, mesmo com a melhor equipa que o PS alguma vez terá apresentado ao eleitorado, não conseguiu realizar os objectivos a que a lista se tinha proposto de, pelo menos, roubar um vereador ao PSD. Manuel Cruz junta-se a Artur Marques e a Marques Neno no 4–1.
No que diz respeito à Assembleia Municipal, Pinho Neno aumenta 115 votos em relação aos resultados do PSD em 2001, recebendo os órfãos do CDS-PP, e o PS ganha 395 novos apoiantes em relação às últimas autárquicas.
Julgo que Augusto Leite é o maior derrotado destas eleições, não se conseguindo sobrepor a um candidato menos conhecido, e perdendo claramente apoiantes seus relativamente à última vez em que se apresentou a sufrágio em 1993 (2056 votos para a AM e 2176 para a Câmara). Mesmo assim, o PSD perde um mandato em relação a 2001, mantendo na mesma a maioria absoluta naquele órgão.
Nas Assembleias de Freguesia mantém-se o fenómeno Murtoseiro de disparidade de resultados relativamente aos restantes órgãos autárquicos. O PSD consegue acumular apenas 2701 votos, com 2 presidentes de Junta e 21 mandatos, contra 2012 votos do PS, 2 presidentes de Junta e 15 mandatos.
Fruto essencialmente das figuras de José Cunha e de Marques Neno, há cerca de 500 eleitores que para as Juntas de Freguesia negam o seu voto ao PSD e oferecem-no ao PS.
As freguesias da Murtosa e do Bunheiro, as mais populosas do Concelho, estão de pedra e cal nas mãos do PSD, apesar de Ricardo Cardoso vir a subir muito lentamente de popularidade.
As freguesias da Torreira e do Monte, mantiveram-se nas mão do PS, aparecendo os primeiros sinais de desgaste relativamente à popularidade de José Cunha que apanha apenas mais 13 votos do que em 2001, enquanto que o jovem candidato do PSD cresce 71.
Santos Sousa mantém nestas duas freguesias dois obstáculos que não consegue vencer, e os 45 votos que conseguiu que a sua candidata na Torreira recebesse a mais do que o partido teve em 2001 não reflectiram o empenho que tinha colocado na vitória que esperava obter.
Em resumo, nada mudou nas intenções de voto dos murtoseiros para estas autárquicas.
Daqui a quatro anos, voltaremos a reflectir sobre se os eleitos locais conseguiram ou não tornar a Murtosa num Concelho mais próspero e onde se goste mais de viver.

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