quarta-feira, dezembro 21, 2005

Cavaco versus Soares

De quem se refere frequentemente ao seu adversário na corrida às presidenciais de 2006 com um displicente “ele”, só se pode pensar que perdeu a noção das conveniências ou que é mal-educado e gosta de ser ofensivo.
Penso que o Dr. Soares, em cada dia que passa, ganha maior consciência do absoluto erro de análise que fez ao aceitar entrar nesta luta que, desde sempre, devia ter ficado entregue a Manuel Alegre.
Soares está inconformado com a envolvência panegírica, como ele próprio diz, que se formou à volta de Cavaco Silva.
Habituado ao destaque, à relevância e à influência pessoal, não encontra maneira de saltar para a ribalta a não ser fazendo afirmações insultuosas e pouco abonatórias para quem as faz.
No debate de ontem, tudo se centrou à volta de Cavaco e da sua actuação como primeiro-ministro. Soares insiste num julgamento que já foi feito, e na sua experiência que passou à história.
Cavaco afirma-se como um presidente que quer exercer a magistratura da influência. Soares quer fazer a magistratura da moderação.
Cavaco afirma total empenho na colaboração com o governo, mas não esconde que vai estar atento e pronto a intervir duramente. Soares confirma que é candidato para dar apoio à política do governo liderado pelo seu partido.
Soares acha que Cavaco será o contra poder. Cavaco sabe que sim, por experiência própria no convívio com Soares.
Cavaco assume-se como homem que precisou de trabalhar enquanto estudava. Soares pertenceu sempre à nobreza republicana.
No fundo, Cavaco corre pela positiva, e Soares investe pela negativa do adversário.
Mário Soares esteve muito mal ao tecer comentários acerca do perfil de Cavaco, classificando-o como uma pessoa difícil, fechada, sem conversa, distante, sentindo-se mal entre multidões. Pior esteve ainda quando se referiu àquilo que pretensamente os seus amigos políticos lhe vinham dizer, à porta fechada, das conversas do chefe de governo. Cheirou a conspiração palaciana, matéria onde uma certa ala socialista se mexe como peixe na água.
Soares tornou-se ridículo enquanto perguntava: o que é o Sr. Prof. Sabe sobre cidadania global? e sobre história de Portugal? e sobre literatura? E o valor de Portugal no mundo?
A astúcia de quem sabe que àquelas perguntas ninguém pode responder em 30 segundos virou-se contra ele. È pura retórica e demagogia.
Em conclusão, todos sabem quais são os limites de actuação do presidente e que deles não poderá sair por força da Constituição da República.
Caberá ao eleitorado decidir se prefere um presidente remetido ao conforto do palácio ou um presidente que, verdade seja dita, manterá o governo sobre uma pressão provavelmente pouco confortável.
Afinal, o debate de ontem não serviu para clarificar nada de novo.

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