segunda-feira, abril 17, 2006

O exemplo vem de cima

Na quarta-feira passada, o quórum dos deputados da Nação na Assembleia da República Portuguesa na altura da votação de várias propostas de lei encontrava-se abaixo da metade.
É certo que pela manhã, as assinaturas no livro de presenças eram em maior número, mas pelos vistos o esquema é o mesmo que se usa num serviço público em Aveiro onde um dia destes presenciei que alguns trabalhadores chegavam, passavam o cartão no relógio de ponto e, em lugar de subir a escada, abriam a porta e iam … tomar o pequeno-almoço ao café do lado.
Só que estes, ainda que tarde e a más horas, ainda voltavam; os deputados pelos vistos já não!
Da boca de ninguém do “ramo” ouviu alguém dizer : “É uma situação da qual os visados se deviam sentir muito envergonhados!”
Num ápice, surgiram justificações para uns quantos : “meia dúzia estaria em representação parlamentar, pelo menos dois tinham sido pais, e talvez mais um ou outro estivesse mal da tripa (reflexo das mariscadas em Angola)!”
Dos líderes parlamentares dos principais partidos vieram as tiradas mais eloquentes : um dizia “que cabe ao partido da maioria assegurar o quórum nestes dias!”; o outro comentava que “a oposição tinha dado o pior exemplo já que dos seus 75 tinham faltado 49, enquanto que dos do seu partido a percentagem era consideravelmente menor!”.
E que dias especiais são estes a que os senhores deputados se referem? Serão dias em que não são cobrados IRS, IVA, ISP, IS e IA, entre outros para alimentar o “glutão”?
Porque será que nas empresas privadas o aproveitamento de uma ponte, por exemplo, é compensado por mútuo acordo com um dia de férias ou com mais uma hora de trabalho diário nos oito dias anteriores ao evento? Não deveria ser assim em todo o lado?
Não deveria ser um dever dos representantes do povo dar o exemplo de cumprimento das obrigações perante um Estado com tantos sintomas de doença como o nosso?
Como é que alguém pensa que são facilmente exigíveis sacrifícios aos trabalhadores do Estado enquanto os deputados e os dirigentes máximos continuarem a dar exemplos de laxismo como este?

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