domingo, agosto 20, 2006

Apenas um interregno?

A partir do próximo dia 1 de Setembro, o Centro de Saúde da Murtosa vai alterar o horário de funcionamento por motivo de obras no edifício principal.
Refere a informação aos utentes que a alteração é temporária, estando estimada em 3 meses. Mais coisa menos coisa, será pelo menos até ao Natal!
Para além de quatro dos médicos passarem a fazer as consultas na Extensão de Saúde do Bunheiro (ESB) revelando o seu verdadeiro sobredimensionamento ou, então, a previsibilidade com que foi construído, importa realçar o facto do SAP (Serviço de Atendimento Permanente) passar a funcionar agora apenas das 08.00h às 22.00h e o internamento pura e simplesmente desaparecer.
Levantam-se desde logo as seguintes questões :
Onde é que vai funcionar o SAP? Na ESB? Uma extensão de saúde tem condições para prestar SAP?
Se o SAP pode funcionar naquele horário, e naquele local, porque razão tem de encerrar às 22.00h? Por falta de médicos, enfermeiros ou pessoal auxiliar?
Porque é que o SAP funciona mais 2 horas que a consulta de recurso que por sua vez termina às 20.00h? Quantos dias por semana são cumpridas as consultas de recurso?
Porque razão aos sábados, domingos e feriados, o SAP pode funcionar durante 14 horas e tem de encerrar nas restantes 10, precisamente quando as dificuldades são maiores?
Está, repentinamente, o Hospital Visconde de Salreu preparado para receber todos os murtoseiros no período nocturno? Foi reforçado o pessoal do SAP daquela unidade de saúde com o pessoal que deixa de fazer serviço na Murtosa?
Foram questionados antecipadamente os Bombeiros acerca da capacidade de transportar todos os serviços de urgência para Salreu?
Ninguém duvida que todos os profissionais de saúde tentarão minimizar os efeitos destas alterações. Ninguém espera que qualquer doente fique por transportar. Mas pode a saúde das pessoas ser vista desta forma algo apressada como se não tivesse havido tempo para uma conversa entre todos os intervenientes que contribuisse para um mais eficaz planeamento?
Mas a grande questão que a todos preocupa é se lá para o princípio do próximo ano o Centro de Saúde irá reabrir nas mesmas condições de prestação de serviço que hoje existem, ou se esta alteração não vai dar uma ajudinha a intenções dissimuladas de acabar de vez com o SAP 24 horas e com o internamento na Murtosa.
Se olharmos à idade do quadro médico do Centro de saúde da Murtosa, e ao facto de a partir dos 50 anos de idade os clínicos poderem deixar de fazer noites, torna-se claro que o futuro não é muito auspicioso, nem nada tem sido feito no sentido da renovação.
Às vezes basta um pequeno “click” para tudo mudar de repente. Nada como um ensaio prévio, com justificação, para avaliar os efeitos.
Por trás disto tudo há evidentes razões de carácter economicista. Pela frente pode-se “dourar a pílula” de muitas formas, mais ou menos inocentes.
Nunca vi uma mudança deste tipo trazer melhores condições para as populações.
Caso esta venha a acontecer, e esperemos que tudo não passe de uma mera antevisão negativista da minha parte, todos aqueles que no passado tanto lutaram pela criação deste Centro na Murtosa vão ver o seu esforço parecer inglório à custa de uma política social onde os custos importam muito mais do que as pessoas.
Ninguém duvida que ao cidadão deve ser exigida a obrigação de pagar todos os seus impostos a tempo e horas e na proporção das suas capacidades e do seu património.
Mas também nenhum governante ou responsável público pode esperar que o cidadão queira cumprir as suas obrigações sendo permanentemente esquecidas as suas necessidades essenciais de bem-estar, de conforto, de protecção, de saúde e de educação.
Desejo, sinceramente, vir aqui em Dezembro falar da reabertura do Centro de Saúde com todas as suas valências e melhores condições de trabalho e de atendimento. Até lá, estejamos todos atentos.

3 comentários:

AC disse...

Meu Caro Amigo, tem vivido por cá? É que isto da saúde não faz parte das preocupações do Poder. As prioridades são; acabar com a saúde.
O seu post, acabou por me fazer, tristemente, sorrir com as questões do reforço de pessoal no hospital de Salreu. Infelizmente não vivemos num país, isto é um sítio. É pena.
Cpts

João Cruz disse...

Caro Abel Cunha :
O facto de vivermos cá e sabermos que temos um País onde é cada vez mais difícil viver, leva-nos a escrever o que sentimos antes que tudo passe incólume aos olhos dos abnegados cidadãos.
Se os governos, infelizmente, tomam decisões meramente economicistas onde a saúde pouco ou nada importa, acho que muito pior são as decisões dos dirigentes dos serviços públicos que, conhecendo as realidades concretas, dão corpo a essas políticas cegas e que a todos nos prejudicam.
Cpts

Anónimo disse...

Duvido muito que para o Natal estejamos por cá a falar da reabertura do Centro de Saúde da Murtosa... este periodo de tempo para a realização das obras vão servir de test, para virem a ser tomadas outras decisões.
Este é o meu ponto de vista e espero estar a ser pessimista.