terça-feira, novembro 16, 2004

Xicos e Arlequins

Começo hoje por me referir ao concelho vizinho de Estarreja para exemplificar como os eleitos locais estão tantas vezes longe de se preocupar em minorar os efeitos indesejáveis das obras aos seus eleitores, a quem, depois de eleitos, num tom mais abrangente, chamam pomposamente seus munícipes.
Estão em curso, há cerca de um mês, duas obras onde os veículos que vêm do lado da Murtosa, e demandam o IP5 em Fermelã, têm de atravessar se não quiserem andar por caminhos alternativos às vezes bastante tortuosos.
A primeira, entre o desvio para estação da CP e o largo da CGD (estrada totalmente bloqueada), e a segunda, junto ao Hospital de Salreu.
Não conhecendo os motivos que levaram à primeira das obras, mas admitindo uma bondade na iniciativa tão grande como a indispensável rotunda junto ao Hospital, sou levado a pensar que nem o gabinete técnico que elaborou o caderno de encargos, nem o colectivo municipal que autorizou os termos do concurso, tiveram em conta o prazo de execução das obras como factor decisivo para atribuir a adjudicação aos empreiteiros que as ganharam.
Aliás, é prática corrente considerar, nestas pequenas empreitadas de obras públicas, o mais baixo preço como critério determinante, estabelecendo-se, logo à priori, um prazo para a sua execução generosamente dilatado para que o adjudicatário não tenha de deslocar meios humanos e materiais relevantes que tornem rápida a sua conclusão.
Isto para não falar na preocupação de estabelecer períodos do dia de tráfego muito intenso, onde não seja permitido trabalhar, privilegiando o trabalho nocturno como medida para reduzir os impactos negativos da obra, sobretudo quando fora de zonas residenciais. Dizemos a isso que são regras de países desenvolvidos que, neste ritmo, nunca deixarão de nos parecer uma miragem.
O hábito na generalidade dos Organismos Públicos donos das obras, é olhar para o público, que são quem as está a pagar através dos impostos, como carneiros (no sentido figurado, espero!) que ainda têm é de graças a Deus por terem recebido aquela bênção, dure ela o tempo que durar.
Vulgarmente, ouvimos dizer da boca dos responsáveis políticos que para termos esta ou aquela melhoria nas condições de vida é preciso sofrer algumas consequências. Concordo com essa perspectiva, desde que haja limites na dimensão dessas consequências, as quais não podem ser determinados a belo prazer de empreiteiros e de gabinetes técnicos que se regozijam de fazerem o que querem e como querem sem que ninguém lhes exija responsabilidades, e sem terem consciência que, muitas vezes, a sua miopia incontrolada e cansaço permanente repercute-se em prejuízos insanáveis no futuro duma terra.
Enquanto não formos exigentes connosco próprios, nunca seremos capazes de ser exigentes com os outros, e qualquer xico-esperto fará de nós arlequins!

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