quarta-feira, junho 01, 2005

Desemprego nos dias de hoje

Cerca de quinhentos trabalhadores da multinacional japonesa Yazaki-Saltano instalada em Ovar estão hoje em greve manifestando-se contra a deslocalização das duas unidades de montagem para a Eslováquia.
Há dez anos, a Yazaki recebeu muitos incentivos para se fixar em Ovar e chegou a empregar milhares de pessoas, muitas delas da Murtosa.
São vários os casais que trabalham naquela fábrica e que têm os seus empréstimos por pagar.
Ainda por cima a Yazaki-Saltano não é um caso de baixa produtividade industrial, apresentando até índices muito acima da média de outras fábricas desta multinacional.
No entanto, os custos da mão-de-obra e os direitos sociais, ainda que baixos relativamente aos países ricos da Europa, são incomparavelmente mais elevados do que nos novos países da União, já para não falar nos do leste asiático.
Este drama do desemprego em Ovar, com reflexos na Murtosa, não apanhando propriamente de surpresa as pessoas, deixa-as confrontadas com uma dura realidade e sem alternativa à vista em virtude de não se estar a criar emprego em Portugal.
Infelizmente poderá não faltar muito tempo para se ouvir falar em situação idêntica na SCBO – Grupo Philips, novamente com alguns problemas reflectidos na Murtosa
Aliás, as perspectivas do governo vão no sentido de se verificar até ao final do ano e em todo o país um aumento na taxa de desemprego que rondará os 8% ou seja o equivalente a 465.000 pessoas.
E não adianta aos sindicatos insistir nos slogans do passado pois estes processos são inevitáveis, podendo ser repentinos ou arrastar-se anos a fio com custos tremendos para o Estado a injectar dinheiro e benesses nas empresas que mais tarde ou mais cedo fecham na mesma.
Deixando o Estado há alguns anos de criar emprego líquido, cabe às empresas única e salutarmente fazê-lo.
Para isso é preciso concertação entre patrões e trabalhadores com pouco interferência do governo que, habitualmente, só atrapalha.
O segredo dos casos de sucesso está nas empresas subirem na cadeia de valor do produto industrial.
Fazer cabos eléctricos (um exemplo) pode ser executado em qualquer país do mundo, e quanto mais barato melhor.
Aplicar, testar, analisar, redimensionar, reformular os cabos eléctricos já estará num nível da cadeia de produção acima do anterior.
Não adianta continuar a querer apostar em trabalhos que estão fortemente dependentes de mão-de-obra intensiva porque aí há muito que deixámos de ser competitivos.
Esta alteração, que é preciso atingir em massa nas pequenas e médias empresas que são mais de 80% do tecido empresarial português, será decisiva para a nossa economia.
Aos trabalhadores, mais do que pedir sacrifícios inúteis é preciso pedir esforço e força de vontade de formação técnica e académica e coragem para aceitar congelamento de aumentos salariais.
Aos empresários pede-se evolução tecnológica e gestão eficaz.
Ao Governo, interferir o menos possível e deixar o mercado actuar.

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