quarta-feira, setembro 21, 2005

Atitudes inadiáveis

Quem acompanha diariamente as notícias, apercebe-se que atravessamos um período de grande tensão social e de enorme preocupação acerca do futuro.
Os cidadãos esperam, nesta altura, por parte do Governo e do Presidente da República uma grande capacidade de discernimento entre o que significa firmeza e prepotência.
Não há maioria que legitime o despotismo e repudie o direito à manifestação e a necessidade do diálogo.
Ninguém hoje tem dúvidas acerca da precisão de fazermos enormes sacrifícios nos próximos anos.
Mas parece-me que também ninguém está hoje disposto a continuar a aceitar pacificamente que os governantes e os autarcas continuem a fazer despesas de delirante grandeza, absolutamente incomportáveis aos bolsos dos contribuintes.
Hoje não chega que os políticos no poder pratiquem uma vida espartana ou propalem recomendações de contenção despesista.
São obrigados a demonstrar ao povo que são capazes de passar das palavras à prática ou, pura e simplesmente, caem no descrédito.
Como poderemos aceitar e entender o discurso do primeiro-ministro que evidencia a intenção de acabar com privilégios e benesses inconcebíveis nestes tempos, se a execução orçamental apresenta um crescimento de 10% nas despesas correntes em comparação com o período homólogo do ano passado?
Então em que ficamos : apertámos todos o cinto, como se costuma dizer, e mesmo assim a barriga espichou para fora desta maneira?
E nas autarquias? Parou-se a construção de estatuetas, salas de espectáculos, fontanários, iluminações fantásticas, relvados com seus repuxos, elevadores, piscinas, etc, etc, etc?
Ou susteve-se apenas a aquisição de viaturas e outras evidências mais gritantes, continuando-se a enterrar o dinheiro dos impostos em obras de ricos?
É preciso que a classe política entenda isto e que não há vitórias eleitorais que justifiquem despesas de fachada a quem sabe que não pode pagar.
Que fique claro que não digo isto com qualquer intenção de atingir quem quer que seja em período eleitoral.
Escrevo apenas o que sinto ao ver esboroar-se tanto dinheiro em coisas dispensáveis e tanta gente esforçada a gritar por falta de verbas na saúde, na educação, na segurança e na ordem.
Faço-o pelo cansaço que vou vendo por onde passo, ouvindo tanta gente dizer que está cansada de ser português.

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