Há cerca de duas décadas, presenciei uma acalorada conversa entre dois almirantes, abespinhados com o governo que lhes impunha sucessivos cortes no orçamento, terminando um por dizer em jeito de graça : se não houvesse navios não havia estes problemas na Marinha.
O caricato da expressão acaba por se adequar plenamente aos dias de hoje em Portugal : se não fosse o déficite não havia estes problemas dos sucessivos governos.
Poderíamos gastar à tripa forra e sustentar toda uma máquina administrativo-burocrática que não está programada para resolver os nossos problemas mas, essencialmente, para os criar e gerir.
Se colocássemos um cego, que não fosse capaz de identificar pela voz os actuais e o anteriores primeiros-ministros e ministros das finanças, e os membros da oposição, a ouvir esta semana na Assembleia da República a discussão das linhas mestras do orçamento de Estado, seria praticamente impossível que ele distinguisse qual era o partido do governo e o líder da oposição : se o PSD, se o PS.
Ao analisar o OGE ao pormenor, começa-se por verificar que mais de metade das despesas e das receitas que lá constam dizem respeito ao chamado “serviço da dívida pública”, ou seja, aos empréstimos que o Estado está constantemente a liquidar e a contrair para manter um equilíbrio de fluxos financeiros. É um enorme valor, que se repete todos os anos, que não cria qualquer riqueza, e consome recursos através dos juros que é preciso pagar.
Depois, vem o resto das receitas. Aquelas que o Estado irá gastar para exercer as suas funções de soberania.
Para gastar, há que receber dinheiro, i.e., os contribuintes têm de pagar impostos : essencialmente o IVA, o IRS, o IRC, o ISP, o IA, o I.Tabaco e o I.Selo. O resto são “peanuts”.
Com o consumo privado a diminuir, o desemprego a aumentar, as empresas a fechar e a deslocalizar as fábricas, os combustíveis a subir e as pessoas a encostarem os carros, etc, etc, não há milagreiro que consiga melhorar as contas do Estado, mesmo que invente investimento público em barda para criar ilusões aos menos atentos.
A única solução para uma economia assim estagnada, é por de mais evidente: cortar nas despesas do sector público, atitude em que o PS, verdade seja dita, têm sido mais corajoso do que qualquer outro.
Tem tido tanto de corajoso como de desastrado, mais parecendo um delicado elefante a cirandar numa loja de cristais.
Em lugar de pedir um sacrifício de direitos, o governo usa o tenebroso argumento de acabar com regalias. O resultado está à vista.
A sociedade crispada como está, percebe, ainda que inconscientemente, que falta um projecto de governação que puxe Portugal para cima, fazendo subir as receitas do Estado por força duma economia dinâmica e atractiva que faça entrar impostos pagos por empresas saudáveis e cidadãos conscientes dos seus deveres de contribuinte.
Os argumentos que os políticos vão esgrimir são os mesmos de ontem, só que os intervenientes trocaram de cadeira.
Mas de palpável, não se vê nada que dê sinais positivos de mudança. Antes, de novo, sobressaem as receitas das privatizações, e alguns benefícios fiscais para os mais abastados.
Mais do mesmo. Mais do nada.
O caricato da expressão acaba por se adequar plenamente aos dias de hoje em Portugal : se não fosse o déficite não havia estes problemas dos sucessivos governos.
Poderíamos gastar à tripa forra e sustentar toda uma máquina administrativo-burocrática que não está programada para resolver os nossos problemas mas, essencialmente, para os criar e gerir.
Se colocássemos um cego, que não fosse capaz de identificar pela voz os actuais e o anteriores primeiros-ministros e ministros das finanças, e os membros da oposição, a ouvir esta semana na Assembleia da República a discussão das linhas mestras do orçamento de Estado, seria praticamente impossível que ele distinguisse qual era o partido do governo e o líder da oposição : se o PSD, se o PS.
Ao analisar o OGE ao pormenor, começa-se por verificar que mais de metade das despesas e das receitas que lá constam dizem respeito ao chamado “serviço da dívida pública”, ou seja, aos empréstimos que o Estado está constantemente a liquidar e a contrair para manter um equilíbrio de fluxos financeiros. É um enorme valor, que se repete todos os anos, que não cria qualquer riqueza, e consome recursos através dos juros que é preciso pagar.
Depois, vem o resto das receitas. Aquelas que o Estado irá gastar para exercer as suas funções de soberania.
Para gastar, há que receber dinheiro, i.e., os contribuintes têm de pagar impostos : essencialmente o IVA, o IRS, o IRC, o ISP, o IA, o I.Tabaco e o I.Selo. O resto são “peanuts”.
Com o consumo privado a diminuir, o desemprego a aumentar, as empresas a fechar e a deslocalizar as fábricas, os combustíveis a subir e as pessoas a encostarem os carros, etc, etc, não há milagreiro que consiga melhorar as contas do Estado, mesmo que invente investimento público em barda para criar ilusões aos menos atentos.
A única solução para uma economia assim estagnada, é por de mais evidente: cortar nas despesas do sector público, atitude em que o PS, verdade seja dita, têm sido mais corajoso do que qualquer outro.
Tem tido tanto de corajoso como de desastrado, mais parecendo um delicado elefante a cirandar numa loja de cristais.
Em lugar de pedir um sacrifício de direitos, o governo usa o tenebroso argumento de acabar com regalias. O resultado está à vista.
A sociedade crispada como está, percebe, ainda que inconscientemente, que falta um projecto de governação que puxe Portugal para cima, fazendo subir as receitas do Estado por força duma economia dinâmica e atractiva que faça entrar impostos pagos por empresas saudáveis e cidadãos conscientes dos seus deveres de contribuinte.
Os argumentos que os políticos vão esgrimir são os mesmos de ontem, só que os intervenientes trocaram de cadeira.
Mas de palpável, não se vê nada que dê sinais positivos de mudança. Antes, de novo, sobressaem as receitas das privatizações, e alguns benefícios fiscais para os mais abastados.
Mais do mesmo. Mais do nada.
Sem comentários:
Enviar um comentário