quarta-feira, abril 19, 2006

Contaminação às claras

Por esse país fora, os solos são frequentemente vilipendiados por pessoas mal informadas que acham que tudo o que neles se depositar desaparece pela terra adentro sem deixar rasto nem trazer consequências funestas para a vizinhança mais ou menos afastada do local.
Quem diz os solos, diz os cursos de água onde igualmente muita gente acha que pode despejar todo e qualquer dejecto, na esperança de que aquilo vá por ali abaixo e que ninguém se aperceba de quem foi o agressor e, sobretudo, que aquela porcaria vá causar problemas bem longe de casa.
Mas, de uma maneira ou de outra, a maior parte desta agressões ambientais são feitas à sorrelfa, deixando bem claro que as pessoas pelo menos suspeitam que estão a fazer alguma coisa pouco recomendável, quiçá criminosa.
Muitas vezes acontece que aquele que tira do rio o seu sustento critica ferozmente o que, trabalhando a terra, se lembrou de despejar na água os detritos da sua actividade, indo de seguida, sem a mínima preocupação, enfiar no solo agrícola um monte de lixo do qual precisava ver-se livre.
Também a indústria enfrenta nos dias de hoje um problema novo com um elevado custo a afectar as suas contas: o tratamento do lixo. E quanto mais perigoso, mais caro de tratar. Não são raros, por isso, os episódios de atentados à saúde pública com a deposição de resíduos em locais impróprios sujeitando as populações à contaminação, na maior parte das vezes invisível por ser transportada no ar ou adquirida por animais domésticos.
De há uns tempos para cá, muitos terrenos agrícolas murtoseiros, entre a ponte da Varela e os Ameirinhos, têm sido brindados com descargas de detritos, restos de aves e ossadas de animais lançados por camiões provenientes, presumivelmente, de matadouros do distrito.
Desconhece-se se a deposição é autorizada ou incentivada pelos proprietários dos terrenos, se a nauseabunda matéria é paga por estes ou é gratuita, se alguém pensa que aquela “merdanga” vai enriquecer os solos mais do que o adubo, ou se se trata tão-somente de um inconsciente crime ecológico à vista de todos.
Se alguém resistir ao cheiro, vai reparar que ao fim de apenas dois dias daquela massa fumegante estar depositada no solo, começam a nascer milhares de larvas brancas, e a imensidão de insectos que se instala ali à volta começa a propagar-se e a atingir o gado que pasta pachorrentamente. Os cães abandonados encontram restos de ossos que tomam como alimento. A cadeia de uma qualquer doença por via da infecção começa a funcionar e pode atingir qualquer pessoa ou animal doméstico que por ali passe.
Para quê então tanta preocupação em termos o saneamento básico se os solos continuam a ser contaminados desta maneira? Não estaremos perante um esforço financeiro enorme por parte do município estando por outro lado alguém a destruir o trabalho feito? Não deve a protecção civil actuar em defesa dos cidadãos?
Longe vão os tempos em que os nossos terrenos agrícolas eram adubados com o moliço da ria. Agora, má sorte a nossa, é o lixo e os detritos animais que fazem a sua vez.
É pois com imensa pena que a planura murtoseira, possuidora de uma terra tão fértil e tão propícia a passeios ciclo-turísticos e pedonais pelos caminhos rurais, esteja a ser envenenada por odores irrespiráveis derivados da fermentação dos detritos biológicos sem qualquer controlo sanitário a céu aberto, colocados nos mesmos terrenos onde pasta o gado cuja carne comemos e o leite bebemos.

1 comentário:

AC disse...

É um problema nacional, se isso o conforta. É uma questão de civísmo, cultura e educação, que são escassos por cá.
Para não ir mais longe, aqui na minha aldeia, os lixos provenientes de obras ou os objectos que não cabem nos contentores, são despejados no Ribeiro, que é um dos locais mais bonitos desta terra.
Os agricultores, "fertilizam" as terras com os detritos das suas fossas.
É este o país que conseguimos construir.
Cpts.