sexta-feira, abril 20, 2007

De vez em quando...dá-lhe

Mário Soares tinha-se remetido ao silêncio deste a derrota das presidenciais. Com as comemorações do 25 de Abril à porta, voltou ao palco no jantar comemorativo do 34º aniversário do PS, bem ao seu estilo … acusando a direita de “ataques raivosos” a Sócrates.
Soares, astuto, matreiro, político de primeira água, aproveitou a oportunidade para desviar a atenção dos portugueses para a veracidade do “canudo” de José Sócrates, enquanto procura ajudar a esconder a insatisfação social que grassa em Portugal.
Na sua intervenção escrita (longe vão os tempos do improviso), Soares sustentou ainda que "a direita, sem norte, julga que já chega de Governo PS" e teme as "grandes reformas progressistas da sociedade" a lançar pelos socialistas para diminuir as desigualdades sociais e "realçar o papel social do Estado".
Terá Mário Soares ficado surdo, cego, mas não mudo?
Que a tal “direita” não tem norte, parece ser verdade. Não é com Marques Mendes nem com Paulo Portas que a oposição ao governo alguma vez terá força para convencer o eleitorado flutuante do centro a corrigir as políticas que têm deixado os pobres cada vez mais pobres.
O percurso académico de Sócrates passou à história.
Mas as dificuldades que os portugueses atravessam todos os dias ainda têm muitos anos pela frente!
Certamente mais dos que os que Soares viverá para ver!

1 comentário:

jb disse...

Meio recomposto da sova presidencial (a leitura do discurso em detrimento da prédica improvisada é inequívoca de algumas sequelas), Mário Soares não perdeu tempo em vir defender o indefensável: "as grandes reformas progressistas da sociedade", levadas a cabo pelo Governo Socialista.

Se agora é este o papel social do estado que Mário Soares deseja para o país, torna-se ainda mais evidente que a inflexão que fez ao seu discurso nos últimos anos, num claro apelo à esquerda mais dura, não passou de uma hábil manobra de charme para conquistar franjas de eleitorado comunista e bloquista, com vista à sua reeleição presidencial.

Já no passado soubera gerir com astúcia a sua permanência em Belém ao cooperar estrategicamente com o Governo de Cavaco, ao longo de um primeiro mandato muito tranquilo, para daí colher o apoio do PSD e vencer folgadamente as eleições seguintes. Com a vitória nas mãos e impedido constitucionalmente de fazer um terceiro mandato, Mário Soares, sem ter nada a perder, inverteu o discurso e, a par do cansaço que o 3º mandato de Cavaco ia manifestando, fez o que pode para ajudar o regresso do PS ao poder. Com sucesso, como se sabe.

Hoje, goradas as hipóteses de regressar a Belém, e com uma imagem a precisar de maquilhagem, depois do atropelo a Manuel Alegre e da pesada derrota perante Cavaco Silva, Mário Soares reorientou o seu discurso em diapasão com Sócrates, que apesar de abalado pelos contornos turvos da sua licenciatura em engenharia, mantém índices de popularidade relativamente elevados - pelo menos a avaliar pelas sondagens.

E é aí, na popularidade, no destaque dos media, na abertura das notícias, que Mário Soares gosta de brilhar e jogar as suas cartadas, nem que para isso se tenha que juntar novamente à ala mais moderada do PS, demonstrando ser um cata-vento político muito bem oleado, sempre à busca de protagonismo. E, ao fazê-lo numa altura em que Sócrates sai ligeiramente beliscado com o título que afinal não tem e com uma licenciatura de contornos pouco transparentes, retoma a velha imagem de respeitável fundador do PS, agora em versão paternalista, em socorro de um Primeiro-Ministro vítima dos ataques ‘raivosos’ de uma oposição desnorteada.

Que isso dificilmente lhe trará a aura perdida, parece claro. Só que este é o tipo de coisas que de vez em quando… dá-lhe.